A partir desta semana, vamos iniciar uma série de conversas com Maurício Ribeiro Gomes, professor de Matemática e Física de escolas das redes pública e privada. Mestre pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NCE/UFRJ), o professor desenvolveu, em 2012, na sua tese de mestrado, uma metodologia para trabalhar a robótica educacional com alunos com altas habilidades.
Segundo ele, apesar de ter sido voltada para alunos superdotados, a metodologia serve para o público em geral da educação. Nessa primeira conversa com o nosso Blog, o professor Maurício Gomes fala, sobretudo, como o uso da robótica educacional potencializa a aprendizagem e a criatividade dos alunos, além de explicar como ela é usada para a construção do conhecimento.
Origem da robótica educacional
A robótica educacional foi aprimorada e aperfeiçoada por Seymor Papert, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em 1964, com a noção de uma aplicação mais avançada, do ponto de vista da aprendizagem, como recurso pedagógico. Ele, então, desenvolveu atividades pedagógicas na área da robótica educacional associadas ao construtivismo piagetiano. A partir do estudo dele, se tem todo o desenvolvimento dos kits de robótica, permitindo construir o aprendizado por meio de robôs.
Construção do conhecimento
Na minha opinião, a robótica é a maior ferramenta educacional existente até hoje. Com ela, primeiro, tem-se a possibilidade de trabalhar com materiais concretos, com a aprendizagem se dando a partir da manipulação dos objetos, permitindo o desenvolvimento concreto do conhecimento, ao incorporar elementos dinâmicos – como motores e lâmpadas -, por exemplo, tendo uma interação lógico-matemática para o desenvolvimento das ações dos robôs. Esta relação entre o computacional, o real, e o abstrato, a programação em si, já faz da robótica um grande elemento de desenvolvimento educacional e didático.
Metodologia e robótica na prática
Em 2012, no Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NCE/UFRJ), na minha dissertação de mestrado, a gente desenvolveu uma metodologia para trabalhar a robótica educacional com alunos com altas habilidades.
Independente do foco em alunos superdotados, essa metodologia serve para o público em geral da educação. Ela consiste em definir como se estabelece primeiro a relação do aluno com o objeto (toda robótica tem um objeto). Os kits, de qualquer origem, são compostos por um conjunto de peças que precisam ser organizadas em uma sequência construtiva.
A partir daí, o professor estabelece uma tarefa. Então, essa tarefa tem a relação, naturalmente, de construção de um robô para uma execução específica. Nas aulas de robótica, normalmente os alunos são colocados em pequenos grupos para a execução de uma determinada tarefa.
Elementos metodológicos
Cada aluno precisa de uma função específica dentro do grupo. Aí a gente está falando de elementos metodológicos. Os alunos precisam da relação com o grupo e com eles mesmos para o desenvolvimento das tarefas, ou seja, trabalhar o intrapessoal e o interpessoal.
As aulas de robótica educacional estão pautadas na discussão, em elementos cognitivos, comportamentais que não raro a gente observa na relação com o grupo: como ele está se comportando com o trabalho; como o aluno compartilha o conhecimento etc.
Visão sistêmica
O outro elemento dessa metodologia é a possibilidade de visão sistêmica, de percepção da aplicação da robótica em um contexto maior. Então, esses elementos – objeto, tarefa, relacionamento interpessoal/interpessoal e visão sistêmica de aplicação da robótica – oferecem a possibilidade de o professor explorar elementos diversos e de uma riqueza que dificilmente a gente consegue com outros elementos, sejam tecnológicos ou não. Dificilmente você vai conseguir isso com outros recursos.
Estímulo à criatividade
Em relação ao desenvolvimento da criatividade, esse processo criativo deve e pode ser estimulado o tempo todo pelo professor. Então, colocar um problema em pauta, usar talvez metodologia para isso, observar o problema, propor problemas da vida real que possam ser discutidos em pequenos grupos voltados para a solução, extrapolar ou problema um problema, insistir na sua resolução são elementos criativos que desenvolvem a visão crítica e possibilitam um novo olhar social, de desenvolvimento da própria cidade, de soluções. Isso permite estabelecer o conceito de inovação, mesmo sendo numa pequena aula, no universo do próprio aluno.
Por Júlio Santos.